O jogador mais valioso

Kevin Durant e Greg Oden posam antes de virarem profissionais

Kevin Durant, o melhor jogador do último mundial de basquete, o próximo MVP da NBA. Será? Não é possível fazer esse tipo de cravada, mas é possível apelar para que, sim, isso aconteça.

Os números de Durant são impressionantes, desde sempre – ele é o cestinha da NBA faz algumas temporadas e na atual está colado em Kobe Bryant. O cara tem versatilidade, joga de frente pra cesta, tem altura de pivô, faz post up, arremessa de longe. É um jogador ofensivamente sem defeitos, que se movimenta sem a bola, aparece livre subitamente, de surpresa, e quase sempre faz o ponto. É, Afinal, um superstar.

Um dos maiores defeitos de Durant, ou pelo menos o que os críticos, como Ruy Gardnier, mais vêem, é de que o jogador se omite em momentos decisivos. Isso realmente já ocorreu em alguns momentos, com Kevin Durant abrindo espaço para outros decidirem. De fato, essa não é a postura habitual de um craque, e me parece claro que Kevin a está corrigindo, tomando mais a frente, criticando publicamente os erros de Russell Westbrook – incrível que desde a briga que tiveram, na quinta partida da temporada, o desempenho dos dois melhorou – e assumindo aqueles arremessos que dão arrepios, lembrando os de um certo Michael Jordan. O clutch time de Durant está aí, para quem quiser ver, e o provável maior defeito dele está prestes a deixar de ser notado.

Outro ponto criticado pelos detratores de Kevin Durant é seu excesso de humildade – na NBA, parece haver uma obsessão para que seus grandes astros sejam megalomaníacos. Isso é plenamente reconhecido na forma como são tratados (ou esquecidos) alguns jogadores fabulosos de sua história, mas cuja personalidade era mais tranquila. Nesse ponto, ele e seu maior rival pelo título de MVP, LeBron James, divergem diretamente. LeBron é o tipo de cara que faz questão de estar falando o tempo inteiro, ter rituais marqueteiros, e, acima de tudo, dar um show na quadra. Seu talento é incrível, especialmente porque alia muita qualidade, colaborando com vários índices de eficiência pro time, armando jogo, defendendo, com esse lado globetrotter da NBA.

Nessa rivalidade, o argumento pelo show time, pelo jogo à la NBA Jam, assumo, é respeitável. E há poucos adversários tão dignos para Durant quanto LeBron. Mas não deixa de ser triste quando jogadores como Durant, que oferecem uma versão menos marketing do basquete, são bem menos vistos do que deveriam – o que só é reforçado pelo fato dele estar fora de um grande centro. Chega ser considerável a diferença de qualidade entre Kevin Durant e Carmelo Anthony, mas a mídia, americana ou não, coloca Carmelo como o maior superastro. E isso tem menos a ver com o que eles fazem em quadra do que com o comportamento dos dois fora, ou melhor, com a forma como suas imagens são exploradas.

Durant chegou na NBA sob a sombra de Greg Oden, o pivô que iria mudar a liga. Era assim que Oden era vendido, e era assim que todos os times da NBA pensavam. Qualquer equipe teria escolhido o pivô com a primeira escolha e muitos torcedores choravam por ele, pediam que seus times perdessem jogos para que Oden fosse “draftado”. Uma visita aos arquivos do fórum Draft Brasil, um dos principais locais para debate da NBA à época, mostra que isso não é exagero – diversos torcedores realmente torciam fervorosamente pelas derrotas de seus times.

Sem entrar no mérito da carreira de Oden, o talento de Durant já era reconhecido, ainda que não tão midiatizado. Muitos scouts desconfiavam que Durant pudesse se tornar tão bom quanto o pivô, mas ponderavam que, na posição de Durant, jogadores com seu talento aparecem. Já pivôs com o talento do outro, não. Aliás, a própria posição de Durant era um drama. Na NCAA ele era um PF, um “4”. Por sua altura e desenvoltura, isso encaixava no estilo do jogo de lá. Na NBA, usá-lo como PF seria desperdiçar seu talento. Ao chegar no Seattle Supersonics (antigo nome do Oklahoma City Thunder), ele foi escalado até de SG, o ala-armador, até se solidificar como SF, o ala, posição que permite que seus arremessos e sua altura sejam ambos desenvolvidos, o aproximando mais da possibilidade de lances espetaculares.

Mas o espetáculo mesmo, as imagens absurdas, as enterradas por cima de vários jogadores, enfim, o lado LeBron James da NBA, fica bem mais representado hoje por outros jovens jogadores, como Blake Griffin e Derrick Rose. A eficiência e a qualidade de jogo overall de Durant são muito boas, mas ele realmente não faz o estilo do superstar. Ainda que converta cestas em cima do estouro e se insinue pra cima de adversários, não é do feitio de Durant pensar na plasticidade do lance. Talvez esse seja, no final das contas, o motivo para tanta resistência ao seu basquete.

Durant oferece um outro jeito de se fazer espetáculo, um jeito mais contido, que faz o que precisa ser feito pro time vencer. Ele converte cinquenta pontos, como fez recentemente, sem que para isso lote os highlights do dia com diversas jogadas de encher os olhos. Será que isso o faz menos gênio? Será que não existe triunfo estético em seu jogo?

Sei que se eu votasse, ele seria o MVP.

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Outro jogador que merece um texto por esses lados é Kevin Love. Seu comparativo sofre do mesmo dilema LeBron James vs Kevin Durant. Love é um cara mais pacato e seus lances menos vistosos que os de Blake Griffin, que joga na sua mesma posição. O ala-pivô está aos poucos liderando uma revolução em Minnesota, agora com Ricky Rubio como seu escudeiro, mas não recebe um décimo da fama que merece. Uma máquina de pontos e rebotes, Love é definitivamente um líder.

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