Under pressure

A Copa do Mundo evidenciou que o futebol pode se construir hoje em muitos estilos, mas jamais irá encontrar sucesso se não obtiver consciência e movimentação. Isso é: fazer pressão.

A pressão não ocorre apenas no momento em que a bola está com o adversário, mas em todo instante em que os jogadores não têm a bola, ou seja, sempre há um em posse, mas outros nove estão em movimento, circulando num espaço curto, jogando em linha e triângulos cada vez menores. Isso torna a recuperação sempre mais intensa e agressiva, e principalmente, abre muitas alternativas para quando se ataca, abrindo diversas alternativas rápidas. Jogue-se no estilo de Simeone, Mourinho, Pep Guardiola ou Kloppe, mais velocidade, menos, é sempre essencial que se jogue pressionando o adversário, e a pressão começa no momento em que você ataca.

O formato exige do jogador. É preciso físico de super atleta, ou se adaptar aos espaços, como fazem veteranos no formato. A queda notória de um gênio como Xavi mostra quanto complicado é o caminho. É preciso estar sempre em movimento, preenchendo o espaço, e o adversário estará sempre em sufoco, clamando por saída similar. Essa compactação, que a Alemanha representou em sua maestria em bons momentos, com a linha alta da defesa, quando mal sucedido, termina por dar ataques fáceis e velozes ao adversário. Por isso há formas diferentes de encara-lo. Um time como o de Kloppe, Borussia Dortmund, mais rápido, menos hierárquico, tende a aproveitar melhor a compactação de Guardiola, daí tantos confrontos duros entre seus times. Embora o Bayern seja mais veloz, incisivo que o Barcelona, ainda opta mais pelo toque incessante, menos dinâmico, o que talvez reforce porque o Dortmund e o Real levaram tal vantagem contra o Bayern em 2013-14. Quando não se tem esse nível de exibição, o sistema lento falha menos. Como escolhi os quatro técnicos, tentarei destrinchar mais sobre eles.

Atletico de Madrid de Diego Simeone 13-14

O time mudou algumas vezes as peças que jogavam, mudando posicionamento de Koke e Gabi conforme quem atuava a seu lado. Para enfrentar meios mais pesados e fortes, Tiago foi essencial. Dava retomada, liberando Koke para encostar no ataque. Garcia, Diego, Adrian – muitos entravam e saiam. Um time mais consciente de suas limitações, foi a partir disso que a liberdade criativa se tornou vitoriosa. O faro decisivo de Diego Costa, Arda Turan trocando os lados, mas sempre entra por trás dos defensores, tecnicamente sendo o mais habilidoso do time. O jogador-chave ofensivo, Koke, tem apenas 22 anos e já pode ser cotado como futebolista de alta classe, com sua intensidade aliada a visão e constância. E havia um sistema defensivo de grande qualidade, que nem sempre subia tão alto sua linha, já que o time se posta menos a frente.
(time base)
COURTOIS
JUANFRAN GODIN MIRANDA FELIPE LUIS
GABI TIAGO KOKE
ARDA TURAN – pelos lados
DIEGO COSTA DAVID VILLA

CHELSEA de Mourinho 14-15
O mais novo dos times analisados, sua consistência tem sido fruto de um equilíbrio entre um time leve no meio, porém extremamente eficiente na frente. Não é um time tão postado a frente, se importando menos com a posse de bola. Seu parente mais forte é o Dortmund. Oscar recuado a segundo volante foi a sacada maestra de Mourinho, que assim deu outro caráter ao time no ataque. Hazard e Willian puxam os ataques velozes, Diego Costa parece mais decisivo que nunca a frente, forte como poucos zagueiros. Ele libera ocasionalmente os laterais, Ivanovic já cumpre seu papel decisivo nas bolas altas, Azplicuelta tem bons e maus jogos, mas tomou a posição que seria de Felipe Luis, esquentando o banco. Matic domina a primeira volância. Naturalmente, o game-changer para o técnico foi a presença de Fabregas, dando uma dinâmica na dupla com Oscar. É um time veloz, atento, pronto para a decisão. Os títulos devem vir.
(time base)
COURTOIS
IVANOVIC TERRY CAHILL AZPLICUELTA
MATIC
FABREGAS OSCAR
WILLIAN HAZARD
DIEGO COSSTA

Bayern de Guardiola 13-14

Optei por analisar a temporada passada, embora em grande parte pode ser estendida a temporada atual. O Guardiola do Bayern supera o do Barcelona em pelo menos um dado: não há mais conservadorismo. Se permitindo mais alterações táticas, que antes eram tentadas mais nas pré-temporadas, Guardiola trocou jogadores de posição, alterou o time entre os 3-4-3, 3-5-2, 4-3-3, 4-2-3-1… Lahm e Toni Kroos tinham papel centra, com Schweinsteiger e Tiago machucados. Toni foi para Madrid gozar de novos grandes parceiros, e nesta temporada as mudanças tem sido um pouco diferentes. Robben parece refinar sua eficiência, Thomas Muller joga pelo meio, pelos lados, Gotze idem. As alternativas só enriquecem. O Bayern joga super acima do normal, tentando não dar espaço aos adversários. A compactação tem seu preço, mas na maioria das vezes alia-se ao imenso talento para gerar vitórias.
(time base)
NEUER
RAFINHA BOATENG DANTE ALABA
LAHM KROOS
ROBBEN MULLER RIBERY
MANDZUKIC

Borussia Dortmund de Kloppe 13-14

Apesar das inúmeras lesões, a temporada passado comprovou o talento de Kloppe para adaptar jovens jogadores ao seu sistema. Menos preocupado com posse, ele joga objetivamente, saindo em velocidade, mas roubando também as bolas a frente. Hummels e Sokratis, que substituiu Subotic por grande parte do ano, ficam mais atrás, embora o alemão tenha liberdade pra subir. Os laterais apoiam, e sempre há um volante ficando para cobrir eventuais erros de saída. A frente, Marco Reus é o craque, mas o time se postou sem maiores centralismos. Na temporada atual, alguns nomes mudaram, jogadores retornaram de lesões e Lewandowski deixou o time e uma lacuna difícil de ser preenchida.
(time base)
WEIDENFELLER
PISCZEK SOKRATIS HUMMEL SCHMELZER
KEHL SAHIN
AUBEMEYANG MKHYTARIAN REUS
LEWANDOWSKI

Seleção da primeira fase – Guilherme

Karim Benzema, um dos grandes destaques da Copa

Karim Benzema, um dos grandes destaques da Copa

Com um pouco de atraso, a lista mais representativa da Copa até a seleção final, os melhores 11 dos grupos. Entre decepções e brilhantes atuações, tivemos grandes jogos, que formam esta lista.

GOL – Guillermo Ochoa, do México. Apesar de outros ótimos nomes, Ochoa foi o mais decisivo para sua campanha fantástica, levando apenas um gol da Croácia.

LD – Mauricio Isla, do Chile. O ala se aproveita da posição para se destacar com o apoio, regularidade na marcação, presença no ataque. Empate técnico com o ótimo Fabian Johnson, dos Estados Unidos.

ZAG – David Luiz, do Brasil. O olhar sério, o esforço de buscar a dividida, senso se liderança – o verdadeiro capitão da seleção brilha no torneio.

ZAG – Mahamadou Sakho, da França. Para um jogador reserva, o Liverpool deve estar impressionado com o desempenho de seu fenomenal zagueiro. Uma ameaça aos melhores atacantes que enfrentou, especialmente no jogo contra a Suiça.

LE – Daley Blind, da Holanda. Vou ser sincero – Blind está aqui pela partida de estreia, onde jogou uma bola refinada, com passes brilhantes. Depois disso chegou a jogar deslocado para a zaga, sem atuações geniais. Nenhum outro fez aquilo, merece a vaga.

MEIA – Charles Aránguiz, do Chile. O meia é o complemente exato que Vidal precisava, alternando as subidas, toma rápido e segue em disparada – é como o Paulinho de um ano atrás.

MEIA – Jermaine Jones, dos EUA. O brilho do meia se alternou entre seus momentos geniais de marcação, raça e sangue, e ainda meteu um golaço em Portugal.

MEIA – James Rodriguez, da Colômbia. Dominante tanto na armação quanto nos gols, James faz um dublê de meia armador com atacante, chega quando permitem e quando não coloca seu companheiro na cara do gol.

MEIA – Juan Cuadrado, da Colômbia. Fantástica fase do meia-direita, carregando a bola sempre com precisão, velocidade, abrindo espaços, mostrando QI elevado. A Copa tem nele uma de suas maiores sensações.

ATA – Arjen Robben, da Holanda. O craque fez de tudo na velocidade que o time permite, sempre cortando para o centro, deixando marcadores e goleiros loucos.

ATA – Karim Benzema, da França. Fantástica exibição de Benzema contra a Suiça, e a decisiva contra Honduras, não deixaram dúvidas de que o atacante chega na Copa em seu melhor momento. Desbanca Muller, Neymar e Messi na lista.

Muitos poderiam estar aí, sempre se referindo a primeira fase.

Seleção da rodada #2 – Guilherme

Foi uma rodada de algumas confirmações e muito equilíbrio. Fortes seleções decepcionaram, e outras fizeram partidas acima do esperado, como a Argélia.

Gênio = Luis Suárez.

Gênio = Luis Suárez.

GOL – Guillermo Ochoa, do México. Fácil um dos maiores responsáveis pelo 0 a 0 com o Brasil, que axilia o México a avançar de fase com ótima campanha.

LD –Mauricio Isla, do Chile. O bom lateral chileno faz as duas, meia e defesa, com boa qualidade, tanto de passe quanto de desarmes. Foi importante no 2 a 0 sobre a Espanha.

ZAG – Raphael Varane, da França. Brilhante na solidez defensiva, ainda armou ataques com boa visão de jogo e passe longo preciso.

ZAG – Mahamadou Sakho, da França. Forte, deu pouco espaço para os suíços e ajudou a França no que foi a partida coletiva mais impressionante desta Copa.

LE –Alvaro Pereira, do Uruguai. Fantástico sua performance, marcou época e a história das Copas ao cair desacordado, descumprir ordens médicas, voltar para o jogo ainda mais duro nas jogadas – emocionante.

MEIA – Sami Khedira, da Alemanha. Foi o melhor alemão na disposição tática, muita troca de posicionamento, chegada na frente.

MEIA – Arturo Vidal, do Chile. Fez dupla formidável com Aránguiz, destruindo o meio consagrado do time espanhol.

MEIA – Juan Cuadrado, da Colômbia. Destruiu na meia direita, um dos melhores jogadores da Copa também.

ATA – Luis Suarez, do Uruguai – O que dizer da performance individual mais briosa que já vi. Apenas que este cara faz o futebol elevar seu sentido moral, magnífico.

ATA – Olivier Giroud, da França. Jogou demais contra a Suiça, puxou ataque em velocidade, foi o pivô, sempre preciso, decisivo.

ATA – Karim Benzema, da França – Genial, talvez esse seja o momento da virada na carreira de Benzema, de um bom homem de área para um gênio da bola – ainda é pouco para cravar.

O peso das camisas

Jogo incrível enre Alemanha e Gana termina em 2 -2, André Ayew impulsiona seu time no empate.

Jogo incrível entre Alemanha e Gana termina em 2 -2, André Ayew impulsiona seu time no empate.

É um fato que todos acabam respeitando o peso das camisas quando o assunto é Copa. É muito difícil fazer uma análise e ignorar que Itália, Brasil e Alemanha são as maiores potências da história do futebol, quando o assunto é Copa.

No entanto, as primeiras rodadas da Copa têm apresentado alternativas que assustam essas três seleções. A Itália chegou menos badalada, pois possui uma geração inferior ao seu normal, mas foi só apresentar-se brilhantemente na estreia com os ingleses e tudo mudou. Pirlo, Balotelli, toda a trupe passou a ser vista como favorita. E aí veio o choque de uma derrota para a revelação Costa Rica. E o oposto se desenha: todos começa a burilar quando a Costa Rica cederá por não ter experiência em alto nível. As evidências só podem falar do que existe. A Costa Rica é um dos cinco melhores times da Copa, demonstrou aplicação, mobilidade. E muito, muito talento, com Bryan Ruiz, Joel Campbell, Bolaños, segurança de Keylor Navas atrás. A Itália, nesse confronto, demonstrou não ter alternativas quando Pirlo está pouco inspirado. E toda a dita revolução que Prandelli tentou aplicar lá, favorecendo toque de bola, ofensividade, não parece acontecer em campo – os jogadores que vieram do banco foram risíveis, Cassano, Insigne e Cerco. O Insigne seria uma alternativa interessante, os outros parecem puro desespero. Thiago Motta entrou para dar mais pegada ao meio, no lugar de Verratti, o que produziu apenas lentidão ao time. Verratti pode ser um dublê de Pirlo, mas ele tem muito mais toque de bola que Thiago Motta. O equívoco é de formação. Com Marchisio como o meia a frente, não existem jogadores de ligação, apenas meias de toque de lado. Pergunto: se Cassano, veterano, mereceu chance na seleção, porque após considerar convocar Totti, Prandelli desistiu? Faltam mesmo meias criativos. Um jogador como Totti poderia mudar um jogo como esse, ou a decisão contra Uruguai. Mesmo que com tempo limitado – basta ver Drogba na Costa do Marfim.

O caso do Brasil já foi discutido, e creio esteja mais dentro do normal. A equipe não é tão forte quanto se vende o favoritismo, e o fator casa não foi milagroso contra o México. Acho um tropeço mais comum. Estranho será um resultado complicado contra Camarões, um time esfacelado e sem qualquer condição de enfrentar times fortes.

A Alemanha sofreu do mesmo drama da camisa. Sua estreia foi boa, mas contou com algumas sortes, digamos. O pênalti duvidoso, no começo, e o destempero de Pepe. Eles não tem a ver com isso e jogaram bem, o suficiente para golear Portugal. Já Gana apresentou-se com outro espirito. Um time aplicado, brilhantemente na disposição em campo, fez a Alemanha se desdobrar para não sair derrotada. Phillipe Lahm não foi bem na saída de bola, tendo errado em um dos gols, entregando a saída em velocidade para a virada de Gana. Ozil ia melhor quando se movimentava pelos lados, do que quando centralizava. Toni Kroos foi um pouco apático. Muller e Gotze foram bem, mantendo o sistema de trocas, levando perigo em diversos momentos a defesa de Gana, mas dependem muito dos meias jogarem melhor. Como não há qualquer passagem de laterais, com zagueiros dos dois lados, o time teve dificuldade de render. Sami Khedira foi o único meia que se mostrou em alto nível, marcando bem, saindo em velocidade, apareceu no ataque. A entrada de Schweinsteiger e Klose deu ao time outro perfil. Especialmente o meia, chamou o jogo pra si, permitiu a Ozil ter mais liberdade na marcação, já que Toni Kroos se marcava, sumido no jogo, permitindo um crescimento considerável do rendimento de todos. Klose comprovou porque é sim uma peça importante, mesmo que saindo da reserva – se ele não tem a mobilidade dos jovens Gotze e Muller, ele possui um QI de jogo elevado, além de um oportunismo raro, fazendo um gol no primeiro toque na bola. Em Gana, impossível não aplaudir o desempenho dos jogadores de frente, que taticamente pressionaram os zagueiros e volantes da Alemanha o jogo inteiro. Muitos erros foram cometidos, forçando lances perigosos. Asamoah Gyan, teoricamente homem de área, seguia até a defesa os meias. O único erro do técnico Appiah, a meu ver, foi a entrada do mediano Jordan Ayew, que toma decisões equivocadas sempre que segura a bola. Felizmente, o futebol é maior do que as camisas, mesmo no seu maior palco.

O que teria acontecido a Espanha?

Juan Mata, eterno injustiçado na seleção espanhola, um possível líder para reformulação.

Juan Mata, eterno injustiçado na seleção espanhola, um possível líder para a reformulação.

Fala-se sobre o assunto por todos os lados. Fim de era para uns, fim de geração para outros. Legado, ultrapassado. Neste ponto todos, como nós, iremos ter ideias sobre o assunto. A Espanha dominou o futebol entre 2008 e 2012, é um longo período. Paralelamente, sua sombra, a equipe formada no Barcelona por Pep Guardiola burilava um estilo de jogo. A Espanha nunca foi um espelho real do Barcelona, sempre atuou com homem de área, sempre teve algum meia de mais movimentação, mas no duro se aproveitava, se alimentando do estilo do futebol espanhol. Atualmente, o Barcelona passa por reformulação, Xavi o jogador símbolo deste futebol não joga em alto nível há quase dois anos e deve ir jogar fora da Europa. Fabregas deixou o Barcelona, Thiago deixou o Barcelona na temporada passada. Não há substituto. A equipe vai se reinventar. Mas e a Espanha?

Parece claro que a geração mais velha deixará a equipe. Xavi, Casillas, Torres, Villa, talvez mesmo Xabi Alonso, ainda em boa fase, mas em uma Copa medíocre. Mas há de se dizer que o estilo espanhol não acabou. Esta ideia é a que julgo mais equivocada. O futebol de meias que se triangulam, buscando o espaço, segue firme em vários jovens. Muniain, Isco, Ander Herrera. De Gea, Thiago, Javi Martinez, alguns já presentes, outros em processo. Mata, um eterno injustiçado por ser mais um dublê de David Silva, pode ocupar posição importante. Há vários jovens, com menos de 25 anos, carregando isso – Deulofeu, por exemplo, foi emprestado ao Everton pelo Barcelona e rendeu muito bem mesmo na Premier League. A Espanha é campeã, usando um estilo semelhante, em categorias de base da Europa. Por tanto, o futebol espanhol segue – o time é que fica. Como ficou sua sombra, o Barcelona. Há diversos legados, times que de forma diferente dão seguimento ao trabalho iniciado nesses anos. Alguns de forma mais repetitiva, monótona, tal qual o próprio Barcelona a e a seleção tornaram-se, outros de forma evoluída, mesclando ideias. Pep Guardiola mesmo fez isso no Bayern, trazendo algumas ideias, mas não abandonando o estilo objetivo da equipe. A Roma desta temporada, por exemplo, se utilizava dos meias fazendo uma movimentação rápida, triangulando, com pontas que fechavam pelo meio, abriam espaço.

O maior legado, aquele que parece menos óbvio, é o da marcação por pressão. O time conhecido pela posse, relembrou aos futebolistas importância de não abrir espaços para o adversário. Se preenche, de forma similar ao futsal, qualquer espaço, limitando aos adversários a possibilidade de trabalhar com mais calma. Embora sempre sofressem com times que pouco se importam com isso, jogando na defesa e saindo em velocidade, o estilo espanhol assustava muitas equipes com a pressão avançada. Já vai muitos anos desde que técnico e teóricos defendem que qualquer time deveria pensar em usar dessa saída, cansando e provocando erros. Existem maneiras diferentes de pressionar, mais alta como gosta por exemplo André Villas-Boas, onde os zagueiros avançam para o meio, assim formando um bloqueio forte na defesa. Mas há sempre os riscos, quando se enfrenta times com passe longo em jogadores como Pirlo, que conseguem colocar a bola onde quiser. Nada disso foi inventado, mas moldado. E como toda tendência, influenciou muitos. Tal qual influencia também outros modelos de sucesso, tanto de gestão quanto de estilo, como Arsene Wenger, que instituiu uma velocidade, juventude, frescor ao futebol inglês no começo dos anos 2000. Revolucionou até a maneira de se gerenciar um time. Mesmo que tenha ao longo da década sofrido com falta de títulos, Wenger inspirou muitos a buscar mais verticalidade, é um técnico do estilo puro.

Pouco aconteceu para os espanhóis na Copa. Seu manager, que sempre contou com a sorte de ter um elenco de alto talento e preparado para o sistema, não foi capaz de perceber que seu time precisava de remodelar. Ou, se teve noção, fraquejou em renova-lo. O que se viu foi um time mal convocado, despreparado, pronto para ser comido pelos estudiosos. O oposto do Chile de Sampaoli, um time fascinante, viril, inteligente. As mudanças táticas feitas entre os jogos evidenciam o técnico no comando. Preencher espaço, domar o adversário, atacantes móveis… Aranguix e Vidal. Que dupla. Na Espanha, o técnico perdido, fazia mudanças estranhas, como se já não houvesse mesmo o que fazer, jogando na fogueira o Koke no segundo tempo. O futebol segue, os estilos se modificam. Sempre houve e haverá maneiras diferentes de vencer – esta apenas encontrou nesse time sua versão mais pobre e despreparada em anos. O que virá para a seleção, não se sabe, mas certamente será algo interessante de se acompanhar.

Brasil 0 – 0 México

Lioz Gustavo, principal destaque da seleção na priemira fase, parando Chicharito

Luiz Gustavo, principal destaque da seleção na primeira fase, parando Chicharito

Bom, se encare fatos. Não foi um bom jogo. Isso não constata um jogo muito ruim, ou execrável como alguns parecem ver. O time criou um número considerável de oportunidades, apesar da boa partida do México na defesa. Ochoa, o bom goleiro da seleção mexicana, brilhou, evitando diversos possíveis gols. Verdade que muitas vezes são bolas alçadas, escanteios, faltas. Ou seja, armas possíveis, porém limitadas.

Enquanto o México fez um jogo na boa, compactando e saindo em velocidade, com participação bem digna de certos jogadores, como o Giovani dos Santos, Em velocidade, o Brasil segue com problemas para evitar jogadas de risco, especialmente pelos lados. Luiz Gustavo fez boa partida, errando pouco na saída. Acho justo afirmar que é o melhor jogador do Brasil na soma. Infelizmente Ramires decepcionou na função de marcar pelo lado, jogando menos que Hulk, inclusive como defensor. Na volta, Bernard entrou, e pode se dizer que criou algumas chances. No entanto, ali o jogo mudou. O primeiro tempo foi morno para o Brasil, com algumas poucas chances, porém a defesa atuou segura, sem ser pressionada demais. A partir da saída de Ramires e da entrada de Bernard, um jogador que não faz a mesma pressão, o Braisl ficou vulnerável, assustado, sofreu diversos sustos. Ou seja, se Bernard deu alguns lances de qualidade a frente, ele quase entregou o jogo atrás.

Foi uma jornada equivocada de Felipão. Não soube arrumar o time, foi pra cima da forma errada. Poderia ter sido uma derrota tanto quanto uma vitória com as defesas de Ochoa. Neymar e Oscar, melhores no primeiro jogo, estiveram abaixo de seu nível. Neymar foi bem marcado, teve dificuldade de escapar pelos lados. Quando ia ao centro, nada acontecia. Fred faz péssimo torneio. Não o tiraria do time porque tem recursos que justificam sua presença. O homem de área, o teórico alvo do time, não deu uma finalização ao objetivo do jogo. E aí caímos no velho dilema das alternativas, me parece óbvio, por exemplo, que o Chile prova que é benéfico, em certos times, usar Vargas e Alexis juntos. Jogadores que se movimentam, não param na frente, e ainda assim são alvos, decidem jogos. Ao recusar-se a levar mais alternativas de ataque abertas, Felipão deixa o Brasil preso a Fred e o time naturalmente mais estático, previsível. Cabe a Neymar, Oscar e Hulk fazerem a movimentação, como ocorreu contra a Croácia, que até sacrificou o talento de Hulk, o mudando para o lado em que rende menos para defender.

O interessante é que o Brasil teve dificuldade de criar, de escapar dos espaços ocupados. A compactação mexicana foi ótima, mas o time dele não fez um grande jogo também. Se olharmos o desempenho de certos jogadores brasileiros, uma partida mais forte de jogadores como Guardado ou Peralta, teriam feito de uma vitória história uma possibilidade real.

O caso de Paulinho merece um texto só seu. Não faltam evidência de que ele está atuando abaixo da crítica, nem se parece o jogador de pouco tempo atrás. É preciso analisar as alternativas imediatamente. Sua posição é a mais importante do futebol contemporâneo e ele é nosso pior jogador na média. É triste, melancólico, ver o que se fez dele no momento. Ao contrário de Fred, há opções no elenco mais ricas. O estilo que ele costumava imprimir se assemelha mais ao Ramires, de tomar a bola e sair. O passe não é refinado, mas há velocidade, elemento surpresa. Hernanes carrega mais a bola, olha o jogo, ajuda os armadores a se moverem, pois inicia a armação atrás. Fernandinho pode fazer a mesma função, um pouco menos lento, seria um jogado que passa melhor, mas tem menos velocidade. Um pouco difícil joga-lo na fogueira como titular, mas tem bola para isso. Aí fica o desafio para o técnico do time.

Notas

Júlio César – 6,5
Daniel Alves – 5,5
Thiago Silva – 6,5
David Luiz – 6,5
Marcelo – 6
Luiz Gustavo – 7
Paulinho – 3,5
Oscar – 6
Ramires – 5,5
Neymar – 6
Fred – 4,5

Bernard – 5
Jô – 5,5
Willian – sn
Felipão – 4,5

Seleção da rodada #1 – Guilherme

Estes são, no 4-3-3, os jogadores que optei para serem uma seleção da rodada, com destaques e revelações.

Robben, o melhor da primeira rodada, comemora um de seus gols.

Robben (esq.), o melhor da primeira rodada, comemora um de seus gols.

Goleiro: Salvatore Sirigu, da Itália. Ótimo goleiro do PSG, foi exigido e compareceu com muitos bons momentos.

LD: Jerôme Boateng, da Alemanha. Jogou na posição para impedir CR7 de brilhar, e o fez sem maiores dificuldades.

ZAG: Ron Vlaar, da Holanda. Firme na defesa, combateu coletivamente com sucesso os espanhóis no primeiro tempo, na retomada, municiou o ataque veloz

ZAG: David Luiz, do Brasil. Nada parecido com o zagueiro inconstante do Chelsea, David jogou sério, brilhante contra Croácia.

LE: Daley Blind, da Holanda. O assistente mais brilhante da primeira rodada, justifica a opção de Van Gaal pelos três zagueiros nessa rodada.

MEIA: Andrea Pirlo, da Itália. O velho maestro, um gênio.

MEIA: Jermaine Jones, do EUA. Destruiu na marcação, um monstro.

MEIA: Oscar, do Brasil. Decidiu o jogo, teve raça, velocidade, movimentação.

ATA: Arjen Robben, da Holanda. Monstruoso na frente, sempre fazendo pressão nos zagueiro, atento as chances, decisivo.

ATA: Thomas Müller, da Alemanha. Cobriu espaços e esteve sempre ativo no ataque, acabou com a defesa de Portugal, sem dificuldades.

ATA: Joel Campbell, da Costa Rica. A maior revelação do torneio, merece estar na lsita pelo fator surpresa mas pela ótima exibição também, tomando um lugar que poderia ser do consagrado Karim Benzema.

O melhor da rodada para mim foi Robben, mas muitos outros jogaram muito bem, uma ótima rodada. Os grandes times foram Alemanha, mais coletivo sem tantos destaques, a Holanda do segundo tempo, e a Itália, que domou uma ótima Inglaterra. A França brilhou, mas seu adversário foi ruim.

EUA 2 – 1 Gana

Bradley, o Lex Luthor, líder do meio-campo do EUA

Bradley, o Lex Luthor, líder do meio-campo do EUA

Defesa? Ataque?

A história desta partida decisiva para seu grupo, especialmente após o sacode que Portugal levou contra a Alemanha, mudou com poucos segundos. Mas é necessário entender um pouco mais sobre os times. A equipe de Gana chegou com algum favoritismo entre jornalistas, fruto de suas últimas ótimas campanhas e o elenco bem experiente que carrega. Os EUA de Klinsmann não são assim um time tão experiente, mas carregam alguns pilares (Dempsey, Bradley, Howard) que o sustentam. No duro, ambos os técnicos gostam de jogar com marcação dura, apertando na frente, e saindo em velocidade. O jogo começa a ser dificultado para Gana quando o treinador faz opções duvidosas de escalação. Kevin Prince Boateng, outrora tratado como estrela, fica no banco. Nos instante iniciais, o time conservador de Klinsmann faz jogada veloz e Clint Dempsey bate no canto. Gol. O jogo basicamente começa para Gana com um placar ruim. O que seria do time do técnico Appiah?

Os EUA postam brilhantemente os atletas em campo, mostrando-se preparados para isso. É Gana quem tem a posse, tendo de se virar para criar contra um time defensivo. A boa atuação dos defensores torna as ideias de Kwandro Asamoah, Muntari, Andre Ayew, Atsu e mesmo Gyan, notório homem de área, limitadas. Pouco se faz, pouco se vê. Os americanos sofrem baixas por lesão, mas dominam o jogo, com o ótimo Bradley conduzindo o time, evitando a marcação sobre pressão, e abrindo o jogo. Gana não conseguia tomar a bola quando não a tinha, ficando com ela boa parte do tempo sem espaços.

Ai vem a pausa e as coisas mudam. Gana retorna muito parecida com a equipe que se acostumou a ser, mais audaciosa, mesmo que os americanos seguissem, liderados pelo brilhante Jermaine Jones, destruindo tudo. Mas ainda assim se via principalmente Asamoah e Atsu criarem, abrindo espaços. André Ayew estava quieto, perdido no meio. Jordan Ayew, seu irmão, não apareceu pro jogo. Prince veio em seu lugar. O impacto foi rápido. Trocas de passes começam a sair, Asamoah cresce ainda mais, Gyan dá um passe lindo de calcanhar e Amdré Ayew aparece no jogo. Gol. Faltavam cerca de doze, trezes minutos. Os americanos pareciam quebrados, exaustos. Bradley sumira do jogo, Jones o pulmão do time só sabe destruir e na frente arriscava chutes tortos. Klinsmann tenta uma última cartada, colocando um jogador descansado. Do outro lado, Gana pressiona, segue chegando, a defesa cada vez mais frouxa. No lance seguinte, o zagueiro e capitão de Gana comete um erro bisonho, quase faz pênalti, cedendo um escanteio. Brooks, zagueiro novato que entrou no intervalo no lugar de um dos lesionados, coloca pra dentro. Que vitória americana. O futebol é incrível. Gana atacou todo o jogo, com pouco sucesso. Os EUA defendeu, como pôde, com algum sucesso. Atacar ou defender? Cada equipe com seu estilo, sua bola. O azar de Gana é que seu time é do mesmo estilo dos americanos. E há quem diga que é sorte, pelo momento do gol nos últimos instantes. Como diz um famoso treinador: isso é trabalho, e erga-se um busto para Jermaine Jones caso os EUA avancem.

França 3 – 0 Honduras

 

Benzema, Valbuena, Grriezmann, Evra e outros: boa estreia

Benzema, Valbuena, Griezmann, Evra e outros: boa estreia

Jogo disputado, um pequeno massacre francês. Mas o que pode se afirmar? Que a aposta em Antoine Griezmann para o lugar de Ribéry foi boa, o ponta do Real Sociedad fez ótimas jogadas, se movimentou bastante, deu passes e dribles. Valbuena segue firme como o patinho feio essencial ao time, um motor. Durante parte do jogo, a França só conseguia atacar de deu lado. O trio do centro foi menos bem, mas pode ter guardado seus melhor futebol para frente.

Karim Benzema foi um caso a parte. Jogando a frente, fez um primeiro tempo lento e desinteressante. No segundo tempo, passou a se movimentar, se envolveu mais com o jogo, provocou o segundo gol, fez o terceiro e brilhou. Nem se quer foi sacado para a entrada de Giroud.

O que é incontestável é que Honduras é um time fraco, abaixo de um nível mais forte, que represente algo. E que teve um jogador expulso ainda no primeiro tempo, inaugurando o placar para a França. E que foi o Palacios, jogador mais experiente e rodado na equipe. Verdade que discordo de muitos, que julgam um erro. Ao meu ver, era um lance claro de risco de gol, e o Palacios acerta com muita força as costas do Pogba. O mesmo jogador com quem trocou agressões antes. O segundo amarelo me parece justo, assim como a penalidade.

Não houve testes a defesa. Varane quase entregou um gol a Honduras no fim,, por falta de seriedade no jogo. Interrempeu uma bola de sair de escanteio, a permitindo ser alcançado por um atacante adversário. Erro que pode terminar derrubando-os em outro jogo.

O que será da França?

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Antoine Griezmann, aposta de Deschamps.

Há instantes do começo de França – Honduras, a partida que inicia a jornada da França, traço aqui as curiosas possibilidades que este talentoso grupo possui. Frank Ribéry está fora da Copa, com lesão séria nas costas. Sem sua referência maior na meia-esquerda, o time se reconstrói. O trio central é multi-funções, Paul Pogba, Yohann Cabayé e Blaise Matuidi. Pogba é ótimo marcador na Juventus, e vai crescendo taticamente. Cabayé é brilhante armador, tem visão, inteligência. Matuidi controla o ritmo, a velocidade e pegada do time.

Por tanto, Ribéry não é chave para a tática da França. Deschamps, seu treinador, confia no triangulo central para que o time tenha um motor. Talvez por isso desinteresse tanto pelo Nasri, um jogador cujo história demonstra ser instável e superestimado. Não justifica que esteja fora, do ponto de vista técnico, mas é compreensível. Valbuena, o baixinho do Olympique de Marselha, é um bom motor pelas pontas, cortando para o centro também. Benzema pode atuar tanto com Giroud, quanto com outro homem na ponta. A escolha de Deschamps foi deixar Giroud na reserva, e sair com Griezmann, uma das fortes relações do bom time que formou na temporada passada o Real Sociedad, junto com Seferovic da Suiça, que estreou mudando o jogo contra Equador. É um ponta clássico, de boa técnica.

Mas será que isso bsta? Porque o que assombra a França nem é o talento. Em 2010, havia talento de sobra. Há bons zagueiros, um excelente goleiro Hugo Llloris. Por que a França não deslancha, nem na Euro nem em Copa desde Zidane? Me parece uma questão de estima.

Analisemos a partida.